Os Estados Unidos e a Rússia encerraram nesta sexta-feira (2) o tratado de desarmamento nuclear INF, assinado nos últimos anos da Guerra Fria, em uma decisão que reacende o medo de uma corrida armamentista entre as potências mundiais.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado em um fórum regional em Bangcoc, minutos após a Rússia ter declarado o fim do tratado.
O governo americano voltou a acusar a Rússia de violar o emblemático texto bilateral com seu sistema de mísseis 9M729.
“A retirada dos Estados Unidos conforme o artigo XV do tratado tem efeito hoje porque a Rússia não retornou ao respeito total e verificado. A Rússia é a única responsável pelo fim do tratado”, afirmou em um comunicado o chefe da diplomacia americana.
Alguns minutos antes, a Rússia já tinha anunciado o fim do tratado “por iniciativa dos Estados Unidos”. O vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, afirmou que seu país propôs aos Estados Unidos uma moratória na instalação de mísseis nucleares de alcance intermediário depois de deixar o INF.
Washington acusou a Rússia por anos de desenvolvimento de um novo tipo de míssil, o 9M729, alegando que violava o tratado, uma posição apoiada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
O 9M729 tem um alcance de cerca de 1.500 km, segundo a Otan. Mas Moscou garante que só pode percorrer 480 km.
Em fevereiro, Washington suspendeu sua participação no tratado, ao acusar Moscou de fabricar mísseis que não estavam de acordo com o estipulado no tratado. Moscou, que rejeita a acusação, seguiu a decisão de Washington e também anunciou a suspensão de sua participação.
Temor de nova corrida armamentista
O tratado, assinado pelo presidente americano Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbachev em dezembro de 1987, aboliu o uso de mísseis com alcance entre 500 e 5.500 km. O acordo encerrou a crise dos mísseis europeus na década de 1980, provocada pela presença de ogivas nucleares SS-20 soviéticas dirigidas a capitais ocidentais, e foi considerado a pedra angular da arquitetura global do controle de armas.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a organização não quer uma nova corrida armamentista. “Não queremos uma nova corrida armamentista e não temos intenção de implantar novos mísseis nucleares terrestres na Europa”, disse Stoltenberg em uma coletiva de imprensa em Bruxelas.
A suspensão do tratado INF gera temores de uma nova corrida armamentista entre Moscou e Washington, porque o acordo era visto como um dos dois principais acordos de armas entre a Rússia e os Estados Unidos.