O mercado de ações começou a semana com otimismo. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, bateu 100 mil pontos pela primeira vez na história na tarde de segunda-feira. Na terça, chegou a superar essa pontuação, refletindo um aparente entusiasmo de operadores do mercado financeiro em relação ao futuro das empresas brasileiras.
Para a economia real, no entanto, as perspectivas são mais pessimistas; analistas vêm reduzindo há semanas as projeções para o crescimento econômico em 2019.
Por que o mercado está tão otimista em um momento em que o crescimento econômico patina e o desemprego segue em alta? No mesmo dia em que o Ibovespa bateu os 100 mil pontos, o Banco Central divulgou um relatório em que seus economistas reduziram de 2,28% para 2,01% a previsão para o crescimento da economia brasileira em 2019. O relatório, intitulado Focus, é feito a partir de pesquisa semanal com consultorias e instituições financeiras.
Diante da alta do Ibovespa, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, publicou um tuíte entusiasmado: “Após início dos trabalhos sobre a nova previdência e durante viagem do presidente @jairbolsonaro aos EUA bolsa de valores ultrapassa a marca histórica dos 100.000. Isto significa que há muito otimismo na política do presidente JB. Quem apostar no Brasil vai ganhar!”
A BBC News Brasil ouviu especialistas para entender o que explica a aparente euforia do mercado. A opinião geral é de que o movimento reflete a expectativa de que a economia se recupere ao longo do ano e que o governo aprove uma Reforma da Previdência que representará uma economia significativa para o país. No entanto, há outros fatores em jogo.
A Reforma da Previdência
O economista Juan Jensen, da 4E Consultoria, acredita que o otimismo do mercado se deva à expectativa pela aprovação da Reforma da Previdência, principal projeto do governo Bolsonaro. A Proposta de Emenda à Constituição que dá conta das mudanças e regras de aposentadoria para a iniciativa privada e o funcionalismo público foi enviada ao Congresso em fevereiro. Não está claro, no entanto, em que formato a reforma será aprovada, se é que será. Além disso, falta ainda uma proposta de mudanças para militares, que deve ser apresentada aos parlamentares nos próximos dias.
Otimismo exagerado?
Jensen acha, no entanto, que os operadores do mercado financeiro estão excessivamente otimistas em relação ao impacto da reforma. A proposta apresentada pela equipe econômica prevê economia de mais de R$ 1 trilhão em apenas dez anos, mas, para isso, ela teria que ser aprovada pelo Congresso exatamente como foi desenhada, o que pode não acontecer.
Juros no Brasil e fora do país
Outro fator que impulsiona o Ibovespa é o fato de que há a expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, não aumentará os juros (mecanismo usado pelos bancos centrais para controlar a inflação) por lá no futuro próximo.
Em janeiro, o Fed decidiu manter a taxa entre 2,25% e 2,5% ao ano e não falou sobre aumentos graduais, o que foi interpretado por alguns analistas como um sinal de que ela será mantida pelos próximos meses.
Crescimento do Ibovespa não é de hoje…
Especialistas ouvidos pela BBC ressaltam que o entusiasmo do mercado não é de agora. Segundo eles, o Ibovespa vem avançando desde 2016, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando Michel Temer, visto como um político comprometido com a agenda liberal, assumiu o governo.
Os entrevistados dizem que, na área econômica, o plano de Bolsonaro está alinhado com o que os agentes econômicos esperam: manutenção e aprofundamento das reformas feitas pelo governo Temer, privatizações, e enxugamento do Estado.
Rivero diz, no entanto, que o índice não bateu seu recorde real na segunda-feira, ou seja, seria preciso descontar a inflação da valorização das ações. “É preciso entender que esse é um valor nominal. Ajustando a série histórica pela inflação, você vê que o índice atingido hoje ainda está longe do pico histórico, que aconteceu no dia 20 de maio de 2008, quando chegou aos 134.917 pontos corrigidos”, diz Rivero.
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